terça-feira, 12 de novembro de 2013

Chuva, Frio, Whisky e Rock n' Roll

Dançava sozinha com os pés descalços no piso frio.
Era dia mas estava escuro devido a forte chuva que se aproximava.
Embalada por uma balada rock n' roll, girava lentamente com os braços no ar
como se estivesse dançando com alguém. Segurava o copo de whisky delicadamente
e imaginava viver a 40, 50 anos atrás. Se imaginava dançando em um bar
mal iluminado, nos braços de um rapaz encorpado, alto, com uma jaqueta
de couro preta meio gasta e empoeirada.
Dava um gole no whisky, ria sozinha por ter um sonho tão clichê.
Ela jurava ter nascido na época errada, apaixonada por carros antigos, filmes
em preto e branco, os Beatles, o Elvis... ai o Elvis, love me tender tocava agora
e arrancava-lhe arrepios em lugares que nunca julgara possível.
O que aconteceu com os homens? Será que eles realmente acham que
ter um carro já é o suficiente? E essas garotas de hoje em dia? Não se dão ao respeito
e ainda a chamam de esquisita por gostar de coisas de 4 décadas atrás? A voz macia passava pelos seus ouvidos, a boca sorria escondida atrás dos longos cabelos
escuros. Conseguia se ver lá, com o rei do rock dançando e olhando pra ela na primeira fila,
sendo invejada por todas as garotas de uma década inteira.

Trocou o disco
Completou o copo

O vento começa a soprar forte lá fora. Ela voltava a dançar como se
estivesse hipnotizada. Como gostava de ficar sozinha.
O silêncio a completava de uma forma mágica, mas ela se preocupava as vezes.
Ultimamente com mais frequência, tinha medo de que a solidão a transformasse em
uma pessoa amarga feito personagem de desenho, uma velha chata com cara de bruxa
que tem a casa apedrejada pelas crianças do bairro.
Sabia que a solidão não a fazia feliz mas a completava, vivera tanto tempo
assim que tinha medo de não saber o que fazer se deixasse alguém se aproximar.

Lembrava dos amigos, há quanto tempo não os via. Sim fazia tempo,
a última vez que os encontrou foi em uma festa furada regada a pop rock
e maconha, e deus abençoe pela maconha senão teria sido insuportável.
Não era chegada em drogas, mas fazia o que fosse pra dar um riso sincero
ao menos uma vez na semana, sabe, aqueles sorrisos bobos mesmo, de boca bem
aberta e sem vergonha que a vejam fingir ser feliz.
Odiava bancar a filosofa mas sempre que bebia era assim,  o cérebro
trabalhava numa velocidade surreal e tão racional. Bom, pelo menos no começo
porque no fim era só merda ...

Bailava sozinha, melancólica, ria feliz de sua tristeza.
Como sou bonita - pensava ela - como tudo consegue ser tão mais lindo
assim distante.

Voltou a musica
Completou o copo

As vezes ela tinha vontade de chorar, por nada, só chorar por chorar.
Mas não permitia a si mesma chorar, nem escondida, nem disfarçada na chuva.
Que a dor doesse dentro dela em silencio, ninguém precisava a ver assim, criando caso
a toa. Ela jamais perdoaria a si  mesma se a vissem vulnerável. Era tão mais gostoso
rir da própria desgraça.

Mas ela não queria mudar, por deus, mesmo que quisesse não saberia por onde
começar, então ela completava o copo de whisky, voltava a musica
e dançava embriagada sozinha com os pés descalços no chão frio num dia de chuva.

"E ela dança, dança, dança até cansar
embriagada sozinha dormia com frio no sofá
E ela dança, dança, dança sem parar
ria triste e deixava a solidão guiar..."

Nenhum comentário:

Postar um comentário