tão sujas quanto minhas veias
do jeito discreto com que jogam
o papel de bala no chão
eu poluo meu sangue
sempre sangue e algo mais
na seringa no chão
O ar
cinza e quase tão podre
quanto o que solto dos meus pulmões
temos o mesmo cheiro
sangue, sêmen e saliva
exalando a cada passo
monóxido de carbono
Por pior que sejamos
alguém nos ama no fim da noite
alguém sempre quer voltar
alguém sempre quer mais
O rio
tão amarelo quanto o suco
que sai do meu canal urinário
bebem dessa agua do mesmo jeito
que bebi da minha nos meus piores dias
nas maiores secas da minha vida
As pessoas
cômicas como em minha imaginação
resmungando, amaldiçoando e transando
como se fosse tudo o que há
se perdendo nos próprios pecados
se afogando nos próprios desejos
ruindo em culpa
como eu
Por pior que sejamos
alguém nos ama no fim da noite
alguém sempre quer voltar
alguém sempre quer mais
Outro cigarro
Outra dose
Outro quarto
Outros lábios
Mesmo erro
Outro corpo
Outro caso
Se afogando
No lado raso
Pedindo por mais
Implorando pelo fim
Outras 5, 7 horas
Outra volta
Alguém sempre quer voltar
Alguém sempre quer mais
No fim da noite
Por pior que a cidade seja
Ela dorme em paz
"É difícil acreditar que não há ninguém lá fora
É difícil acreditar que estou sozinho
Pelo menos tenho seu amor, a cidade me ama
Sozinho como eu estou, juntos nós choramos"