sexta-feira, 23 de maio de 2014

Eu não sou como eles mas eu posso fingir

Diga a verdade dessa vez
mostre sua face real
minta pra mim
finja que ainda é quem eu conheci
quem eu sempre imaginei
com a roupa suja
de cara lavada
de quatro
feito de gato e sapato
me faça acreditar que ainda se importa
me traga flores
bata à porta
me traga uma arma
me traga
feito cigarro
pise em mim no final
me carregue no bolso
amassado
divido em 20 partes
sem filtro
razão do amarelo em seu sorriso
gargalhando a noite
dirigindo alucinado
traga sua arma
carregada
destravada
me de um soco no estômago
e dois na cara
atire para o alto
faça chover
para estancar a dor
para aliviar o sangue
para ranger os dentes
roer as notas verdes
seduzentes companhias da madrugada
de vista turva
tropicando na rua
largado no vomito
Insano
constante
fingindo que é igual a eles
fingindo que é feliz...

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Cinza

Eu vi
um retrato teu
sorri
não sei o que me aconteceu

era outubro
ventava
estava escuro
e você não estava

voltei
gritei do portão
me calei
quando a chuva chegou ao chão

procurei abrigo
embaixo de uma árvore
pensei sozinho
por favor não chore

o cinza triste do céu
chorava
o cinza em mim
se segurava

eu vi
o carro seu
fingi
que era eu

no banco ao lado
fazendo você rir
te segurando pelo braço
pra você não cair

quase desisti
então desisti de vez
amassei o papel e sorri
deixei cair o cartão que você fez

na esquina da sua rua
tem um bar pintado de azul
cada garrafa de cerveja
me lembrava seu corpo nu

o vento empurra o choro
lágrimas que caem do céu
sai andando pra onde moro
com o rosto de quem perdeu

o cinza triste do céu
chorava
o cinza em mim
se segurava
teimando em não dizer adeus...

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Para Sempre

Eu estava triste
e achei que não dava mais
esperava que alguém me visse
ou que pelo menos me deixassem em paz
eu olhei pros lados, acanhado
chutei o vento ao acaso
acertei um gato
no peito
que desrespeito
com o bico da butina
injusticei o pobre coitado
agora triste e culpado
gritei aos céus
até quando?
por quanto tempo mais?

PARA SEMPRE - caiu a chuva
PARA SEMPRE - miou o gato
PARA SEMPRE - tocou a buzina
PARA SEMPRE - fadado a sempre ser assim

Eu tentei e como tentei entender
os segredos da vida, os mistérios da morte
mas eu sem sorte parecia jogar
apenas pra perder
me lembro bem, foi bem no meio do mês
quando recebi o vale, um vale de vai
e não pense em voltar atrás
sozinho
gritei aos céus
até quando?
por quanto tempo mais?

PARA SEMPRE - soou o trovão
PARA SEMPRE - assobiou o vento
PARA SEMPRE - caiu a folha da arvore
PARA SEMPRE - com silencio respondeu minha solidão

Então sentado sozinho
num bar chamado duas camas
ou será três quartos
sei que o gim era barato
mas não sei se o que me serviam era gim
ratos, baratas e ratos
velhos companheiros
traiçoeiros
atravessaram o salão do bar
ao me ver chegar
agora me olham de longe
e cochicham
os rabos, eles espicham
como no ditado e só não sorri de ruim
minha personalidade e o gim
estranho no meu jeito mais estranho
paguei a conta, saltei do banco
olhei de canto
pra ver se me olhavam
mas já haviam me esquecido
até quando vai ser assim?
quanto tempo mais vai ser assim?

PARA SEMPRE - ninguém respondeu
PARA SEMPRE - a rua vazia me acompanhava
PARA SEMPRE - a casa estava fria
PARA SEMPRE - fui sozinho até o dia em que para sempre parti