segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Quebra-cabeça

Por várias vezes ao dia
Eu perco a lucidez
Um estado semi-consciente
De ansiedade, melancolia e embriaguez 

Quem dera houvesse um copo
Ou que eu pudesse sentir meu corpo
Que o poço não fosse tão fundo
Ou que eu pudesse encarar meu rosto

Cólera ferve nas veias
Por vários dias no mês 
Sou capaz de achar desculpas
Para uma raiva chula feita de insensatez

Quem dera houvesse um corpo
Que me livrasse do copo 
Que me tirasse do fundo do poço 
Que me fizesse perceber que sozinho eu posso

Por várias horas no dia
Eu não sei o que dizer
Nestas horas infinitas
Fico sem entender

Que tenho tudo e mais um pouco 
Que preciso nada além de foco
Que todo mundo passa por algum sufoco
Que se eu passo é porque eu posso


"Medo do medo, 
O pavor será disfarce da dor?"
- O Terno

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Fio de Barba Branca


Temos tempo?
Tudo é tão sério.
Tudo é tão selvagem.
Os jovens segundos seguem enfileirados.
Infinitos.
Precisos.
Preciso de uma manha cinza
e uma noite quente.
Me abraça e diz qualquer coisa.
Apaga a luz...
... já é hora.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Normal ou Socialmente Ajustado

Normal ou socialmente ajustado
medo de não poder pagar o aluguel
medo de não poder pagar a luz
o carro novo e o celular
medo de não ter dinheiro
medo de não saber como ganhar mais
medo do vizinho
da policia e do bandido
pilula pra dormir
pra emagrecer
pra acordar
medo do câncer
da Aids
do ebola
pilula pra ficar calmo
pra ficar quieto
pra criança ficar quieta
hiperativo
hiper mercado
hipertenso

Normal ou socialmente ajustado
bandido rico no poder
bandido pobre na cadeia
e você no fogo cruzado
cerveja pra esquecer
cervejada
auto ajuda
não leve os problemas para cama
- eu não levo, eles me seguem.
travesseiro da NASA
caneta da NASA
armas de destruição em massa
vende
tiroteio com a policia
vende
poluição
não vende
psicólogo
psicotrópico
psicótico

Normal ou socialmente ajustado
carro mata
cigarro mata
colesterol alto
manteiga
cerveja com café
filtro 15, 30 e 100
camadas de pele
da cebola
de ozônio
de maldade
marcada na pele
por cor e pelo
pelo preconceito
pelo medo de ser só mais um

sábado, 9 de maio de 2015

Não Esqueça

A cor dos seus olhos
E o jeito que me olhavam
Um castanho triste
Num dia cinza triste
Eu quero ficar
Eu quero me lembrar
Eu quero que se lembre
Ou simplesmente
Não me esqueça
Apertado e sufocado
Como sempre
As pessoas ao redor
Não entendem nada
Não me esqueça
Eu gritava de dentro da minha mente
Você chorava sem me ouvir
Como sempre
Minhas mãos estavam juntas
Segurando uma a outra
Consolando a si mesmas
Dizendo que tudo ficaria bem
Não me esqueça
Eu tentava gesticular
Mas meus músculos eram feitos de pedras
Como sempre
Eu não podia ir aonde queria
Dizer o que queria
Sorrir se tivesse vontade
Você me olhava
Me beijou
E ajeitou meu cabelo
Não me esqueça
Eu apodrecia
Durante os segundos seguidos
Aos poucos
Eu não importava
Não existia
Como sempre
Eu não fiz nada
Enquanto todos faziam
Eu ficava parado
Torcendo pra que não falassem comigo
Não me esqueça
Eu pedia com os olhos fechados
Como sempre
Ninguém soube ler meus sinais
A caixa era quente
As pessoas eram quentes
O café
As cortinas
O bafo
Como sempre
Eu estava frio
Não me esqueça
Tocava a musica dentro de meu crânio
Eu era a mancha de sangue
Eu era a vergonha em seus lábios
Eu era a lagrima nos seus olhos
Eu era a perda de tempo
Eu era a vontade de ir
Eu era o tapa nas costas
Eu era o afago
Eu era o desconcerto
Eu era o monstro no canto da sala
Eu era o chão
Eu era o barulho que faltava

Eu era o cara no caixão.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

O tempo é um círculo plano

Eu tenho os olhos da minha mãe
meu pai dizia:
parece que não enxerga
um palmo na frente do nariz.
Eu tenho o coração da minha mãe
meu pai dizia:
você é tão fraco como ela
ela me amava mais do que devia.

Eu odiava a sua mãe
meu pai dizia:
ela mostrava o quanto eu era ruim
as vezes até sem querer.
Eu tenho as manias que minha mãe tinha
meu pai dizia
que ela também não gostava do miolo do pão
que ela também não gostava muito dele.

Meu pai me pediu desculpas
enquanto me pagava uma cerveja
em um boteco de paredes brancas
com faixas amarelas
na esquina da rua em que morou,
quando ainda não era meu pai.

Me pediu desculpas
no dia em que o pai dele morreu.
Meu pai disse que o pai dele
também dizia muitas coisas.

Meu nome é nome de rua

Eu tive centenas de vidas
eu fui dezenas de EUs
eu vivi demais

Eu morri demais

Eu morri
quando alguém morreu
alguém que eu mal conhecia
com quem eu não me importava
ou não sabia que importava pra mim

Eu morri
quando eu mudei
e morri novamente pra voltar a ser eu
morri quando cresci
e quando percebi que cresci

Eu morri demais

Eu morri
quando não soube lidar com a vida ao redor
quando me isolei
eu morri aquele dia
e morri quando voltei

Eu morri
por sorrir demais
e por deixar de sorrir
eu morria as vezes quando chorava
e todas as vezes que segurei o choro

Eu morri demais

Eu morri
quando parti
quando partiram
e quando me partiram
eu sorri antes de morrer

Eu morri
quando me obriguei a lembrar
quando me forcei a esquecer
morria quando acertava
e quando tive que admitir que errei

Eu morri demais

Eu morri
quando gritei com outros
quando gritaram comigo
quando eu só queria gritar
e não podia
eu morria

Eu morri
quando me olhei no espelho
quando me perguntaram meu nome
quando minha voz falhava
morria de vergonha
e de saudade

Eu morri demais

Eu morri
hoje enquanto escrevia
ontem enquanto a cerveja acabava
quando eu nasci
eu morri também

Eu morri
e morro
quando não sei o que fazer
quando não tenho aonde ir
quando me escondo da vida eu morro
e quando vejo que ela é boa

Eu morro demais
morro de vontade de viver

A Boa Luta

Olha ali atrás da porta
por entre a janela
dezenas
centenas
milhares de outros mundos
que não sabem
ou não se importam
se o seu mundo existe

Olha ali no espelho
seu reflexo
como você erra
em se importar demais
em se deixar levar
por outros mundos
outros corpos
além do seu

Abre o olho e vê
ou força uma olhadela
as chances não são das melhores
o vento não sopra a seu favor
os deuses não vão com a sua cara
a sorte não respira na
atmosfera do seu mundo
e você vive no seu mundo
você vive a sua vida

É tão difícil assim de ver?
será que esta cego?
você não pode mudar outros mundos
você não pode mudar a direção dos ventos
o tom das vozes
e as vontades regentes
você não pode mudar o que sente
o que te resta então?

Se afogar no mar de solidão
caminhar horas na rua da amargura
tropeçar nos próprios passos
confundir o próprio rosto no espelho
ruir
sofrer
e por fim
morrer ao relento
?

Não!

No seu mundo você é rei
sua palavra de ordem é lei
espada e escudo
não, você não pode controlar o que sente
mas você pode controlar o que faz
as chances não são boas?
Fodam-se as chances!
O vento não colabora?
Foda-se o vento!
Danem-se os deuses e a sorte.
Se você quer mais
faça mais
você
por você
faça
faça
faça
ande o caminho todo
caia
caia
caia e levante
ou não vá!
lute as sua batalhas
e se orgulhe das suas cicatrizes
e no fim
se morrer
que morra de amor
não vai ser fácil
nunca será fácil
mas você será mais forte
os mundos desfilaram ao seu redor
admirados
e quando for demais pra você
quando o abismo for fundo demais
quando você se esquecer de tudo isso
eu te garanto
um outro mundo te estenderá a mão
maravilhado com seu brilho
mesmo no chão você inspirará outros
e como não amar alguém que passou por tudo isso

Olha pra você
olha hoje pra você
pra suas qualidades
porque você tem que reconhece-las
faça mais
e mais
e mais
tente com cada vez mais vontade,
ande o caminho todo
eu sei que você vai conseguir
eu sei que você vai sorrir feliz no final
eu sei
eu sei sim.